segunda-feira, 7 de abril de 2025

D. Afonso Henriques - Fernando Pessoa

Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!

Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A benção como espada,
A espada como benção!

EM - MENSAGEM - FERNANDO PESSOA - ASSÍRIO & ALVIM

domingo, 6 de abril de 2025

Um alento para a dor - Fernando Vasconcelos

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Vasculhei por muitos portos
um alento para a dor!
Aportando, largando amarras
navegando sem conforto
intentando sem descanso
em dobrar esse tormentoso
e malfadado cabo Bojador!
Procurei em terra fértil
nas montanhas mais inóspitas...
De eu tanto procurar!
Apoderou-se de mim o cansaço
ainda assim não desmerecendo
procurei dentro de mim!
Em meu interior nada encontrei
somente um vazio desesperante...!
Mas quando menos o esperava
esse alento aportou-se em mim!
com uma fina tonalidade
de rimas breves poetizadas
entusiásticas, refrescantes
solicitando, a tão ansiada paz
espiritual, revigorante de alma
por mim tão ansiada
fora e dentro, de meu coração...
seu carinho foi o bálsamo
tesouro de requinte
de uma fogosa fineza de luz

EM - VERSOS E DESABAFOS - FERNANDO VASCONCELOS - IN-FINITA

sábado, 5 de abril de 2025

Ciclos do feminino - Raiza Figuerêdo

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as roupas nos armários
podem passar anos
sem você lembrar delas
esquecidas em gavetas
um vestido tubinho
te faz voltar aos vinte anos
as saias longas, leves
e as recordações da faculdade
a calça leg e o all star que você usava
marcas do adolescer
e o vestido do batizado com as manchas
escrevendo o tempo e a história no tecido
da época em que você
dava os primeiros passos
antes de se transformar
em menina
moça
e mulher
que faz das palavras
companhia
alento
       ofício

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

A mesma gente - Desafinador de palavras

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Se tudo correr bem… e, com a normalidade natural das
coisas, qualquer dia, ninguém se vai lembrar de ti, muito menos de mim.
Se deixares algum dinheiro, para alguém gastar, ainda se
vão lembrar do teu sorriso, enquanto o dinheiro não acabar…
Depois… nem uma flor na campa no dia de finados, te vão entregar…
E tu…, que pensas que és diferente, tu és igual a toda a gente…
Tira isso da cabeça, todos se vão esquecer de ti, até mesmo
antes, que o teu corpo arrefeça…
Deixemo-nos de ilusões e de tangas, somos todos iguais,
somos todos feitos da mesma massa.
Ninguém é diferente, somos todos cães de caça, na linha
da frente, a ver se ninguém nos ultrapassa.
Andamos todos ao mesmo, somos todos filhos do mesmo
pai, somos todos descendentes, da maçã e da serpente,
descendentes da tal mulher «devassa».
Somos todos… a mesma gente, somos todos… da mesma raça…

EM - PAIXÃO - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Luar - Sophia de Mello Breyner Andresen

O luar enche a terra de miragens
E as coisas têm hoje uma alma virgem,
O vento acordou entre as folhagens
Uma vida secreta e fugitiva,
Feita de sombra e luz, terror e calma,
Que é o perfeito acorde da minha alma.

EM - OBRA POÉTICA - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - ASSÍRIO & ALVIM

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Ergam-se mulheres - Nonô (Mª. Leonor Costa)

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Ergam-se mulheres
Façam ouvir as vossas vozes
Milénios de história
Tem sido para nós atrozes.

Já não precisamos ser submissas
Nem ficar em segundo lugar
Saiam das costas dos homens
Permitam-se brilhar.

As tarefas de casa são para dividir
Não se deixem sobrecarregar
Também precisamos de tempo
Para de nós podermos cuidar.

Acreditem mais em vocês
Descubram o vosso valor
Permitam-se ser criativas e femininas
Deixem-se vibrar em amor.

Vivam a vossa sexualidade em pleno
A vossa felicidade é prioritária
Vamos todas nos erguer
Por uma sociedade igualitária.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Consagração - Meire Pedroso da Silva

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a mata pulsa em mim
pula de galho em galho
percorrendo veias ancestrais
os pássaros bicam as folhas em branco de minha memória
quebram as vidraças dos sentimentos
que escorrem dos porres e lombras
de algo que sangra nos encontros inusitados da madrugada
e tantas partilhas embriagadas de histórias
a mata vibra em mim
em cada fio dos cabelos brancos
amaciados pelas mãos de minhas netas
molhadas de gotas
que vertem sobre nós
lava o que entope as artérias
de culpa saudade e dor
e tudo se consagra nas águas de Nanã

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 1 de abril de 2025

Estado de sitio (excerto) - Maria João Neves

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Mexeu nas mortas da grande família africana,
teve coragem,
Mas,
na grande plateia o calafrio aguça a crença de que estou
perdida e que o passado não foi despido.
Tremo muito.
Já, e à beira rua,
um sorriso abraça-se ao poste,
sem alertas desassossegados e,
os laços ficam restabelecidos.
As lágrimas poderiam escorrer em todas as faces mas,
o medo do vazio,
racista,
como um material original em estado cru e, de sensações
súbitas hostis,
dança
Sim, dança mas,
a toda a hora.
Transeuntes chamam-me vagabunda mas,
Não aceitam o meu novo emprego
o de vagabunda.
Arrastada por preguiça levar-me-ão para a raiva e revolta mas,
não faz mal,
resultado de direitos humanos adquiridos.
No café do quiosque os guardanapos são recibos
comprovativos de supergentrificanismo.
Lisboa, menina, velha mas,
de bairros sociais interageracionais continuamente destruídos.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

Voam cânticos - Fernando Vasconcelos

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Voam cânticos, voam salvas,
Voam as pombas em liberdade...!
Voam ao sabor do vento
Trazendo por companhia
A pomba branca
Simbolizando liberdade!
Vão voando contra o vento,
Sem ficar em desespero,
Nem entrar em debandada...
Nada as quebra, ou destitui,
São firmes e não vacilam
São pródigas em seus intentos
Sem declinar ao infortúnio
De cada obstáculo!
Nada temem,
Voam livres, fugazes...

EM - VERSOS E DESABAFOS - FERNANDO VASCONCELOS - IN-FINITA

segunda-feira, 31 de março de 2025

Expectativa - Maria João Abreu

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Crio cada um dos meus poemas,
como se fossem parte de mim,
no meio das balas de uma guerra sem fim,
onde as palavras são insuficientes.

Teimo em criar e acreditar no amor,
como se não houvesse amanhã,
cercada por barulho e poluição,
nuvem tóxica que desaparece em um sorriso.

Creio que em torno das minhas palavras,
apesar de saber que a morte é supersônica,
a esperança é constante e a paz avança vagarosa,
como letras riscadas no muro de uma prisão.

Crio cada um dos meus poemas,
com palavras de alma e coração,
como fossem manuscritos que ficam para a eternidade,
como a última carta antes da minha desaparição.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

domingo, 30 de março de 2025

O que sou? (excerto) - Maria Felisbela dos Reis

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Sou um ser humano igual a tantos
Ou não… igual a ninguém
Vim ao mundo sem pedir
Para sofrer, amar e morrer,

Na vida nunca se pode dizer
O que por vezes nós pensamos
Nunca maltratei ninguém
Será que sei o que sou afinal?
No meu conscientemente eu sei
Que por vezes não sou compreendida
Pois tanta maldade há nesta vida
Que se vive sempre em competição.

Mas quando se olharem para si próprios
Os outros, talvez se vejam como são
Ignorantes ou inocentes
Com os seus pensamentos em vão!

A muito tenho assistido
E é forte o meu pensar
Não sabendo eles o que dizem
Ah! Se as verdades eu quisesse falar…

A maior parte da minha vida
Foi passada rápidamente
Sabendo eu ao que me refiro
Noto que o amor se vai perdendo
E sem querer consentir
É isso que nos vai acontecendo.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

sábado, 29 de março de 2025

Pai (excerto) - Maria do Céu de Carvalho

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Como é difícil celebrar um aniversário
Quando dois dias depois se morre?
Optei por celebrar a vida!
Um dia em que mesmo na cama do hospital
Conseguiste ter junto de ti as tuas três filhas e netas.
Estavas feliz, por estarmos todos juntos!
Bateste palmas e cantaste a ti próprio
Os parabéns!
Via-se o brilho nos teus olhos
Mesmo em grande sofrimento!
Feliz aniversário Pai.
Pelo dia em que nasceste.
É este o dia que quero e vou guardar
Eternamente na minha memória!
Acredito que estejas onde estiveres
Estás bem!
Foste aquele que partiu
Deixando uma enorme tristeza na minha alma!
Deixaste em mim um legado enorme
O gosto pelos livros, pela paz, pela simplicidade e humildade.
Pelo amor!
A vida não nos abençoou com a felicidade
Existiu sempre uma espada negra entre nós
Não nos deixaram aproveitar a nossa união.
Tudo fiz para ser amada.
Eu por ti sei que fui e contigo aprendi
O significado do verdadeiro amor!

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 28 de março de 2025

Canção de setembro - Zito Jr.

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Hoje faz aniversário
A sereia que eu pesquei
Num dia 20 de abril,
Por Sertânia, lá, deixei
O que de tristeza tinha
Assim que a vislumbrei.

Em Sumé, nossa morada
Dois filhos, aqui tivemos
A caminhada é bem árdua
Mas muito nós já vencemos
A primavera nos dá
As flores que nós não vemos.

A convivência não é fácil
Viver é fácil demais!
Conflitos vêm e se vão
As mágoas ficam pra trás
E assim nós dois seguimos
Em paz e amando mais!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Coração puro - Maria Cristina de Sá Pereira

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Coração puro
No amor presente
Olhar além...
Libertar para ser liberto
Serenidade
Paz
Primeiro em mim
E expandir para o outro
Em mim contrai
No outro expande
E assim é o caminhar
Coração puro
Vida segue

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

quinta-feira, 27 de março de 2025

Sonho de um rio - Zezé Matos

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Corrente de água doce é rio...
Porção de água salgada é oceano
É oceano, é oceano
É o mar que tanto amo.
É Oceano, é oceano.
Onde eu quero morar.
São as águas, imensidão!
Que meu coração, rio.
É menino que anseia
Sonha livre e deseja
Nestas águas serpentear.
Para a vida continuar

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

O verão vira outono - Maria Cabana

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Chega o outono colorido
A rodopiar com leveza
No sonho traz a certeza
De um inverno garantido

As folhas bailam ao som
De manhãs estremunhadas
Festejam às gargalhadas
Fazendo ecoar seu tom

Nuvens se vestem de cores
De uma certa melancolia
Se colhem no dia a dia
Frutos que já foram flores

Regressa o ano letivo
Com sorrisos luminosos
Todos eles ansiosos
Se debruçam sobre o livro

Assim é era após era
O verão vira outono
O inverno vira sono
Para acordar em primavera.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

quarta-feira, 26 de março de 2025

Carrasco inconsciente - Tita Tavares

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Vivo na angústia… no medo… na sofreguidão…
no receio…
Vivo na sombra do carrasco sem rosto... invisível…
Que não se assume nem dialoga.
Mas sempre presente,... constante... inadiável... implacável…

O carrasco que não necessita de chicote
Mas chicoteia
O carrasco que não necessita de espada
Mas apunhala
O carrasco que não necessita de uma cela
Mas que encarcera
O carrasco que não necessita de ponto
Mas que controla
O carrasco que deixa rasto…
Que faz o caminho sem caminhar…
Que acompanha… sem ser convidado

O carrasco que de nada necessita… que não existe…
Mas que persiste… insiste… jura… perjura…
Que promete… incumpre… que seduz… que trai…
Faz sonhar, desilude…
Que mata … mas também cura.

O carrasco…
O tempo… o tempo… o tempo…

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Loucura - Maria Antonieta Oliveira

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A loucura
É uma pasta vazia
É uma pauta sem clave de sol
Uma praia sem areia
E um mar sem água
A loucura
É uma cabeça oca
Um pensamento sem nexo
Um som agudo
Ou grave tanto faz
A loucura
É louca
Inventa e cria ilusões
Acredita em mentiras e desilusões
É louca
A loucura
Porque é abstrata e pura.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 25 de março de 2025

A voar com os pés na Terra - Teresa Carrapato Moleiro

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Preciso da tua asa para voar
Preciso da tua asa para me abrigar
Preciso da tua asa para poder chorar...
Ah, se preciso...!
Vem, minha borboleta
Toca-me com suavidade,
Preciso de sair do casulo,
Preciso de me renovar,
A minha alma poder libertar..

Um dia vou voar tão alto,
tão alto ...
Saio da roleta!
Que o chão não será só chão!
A terra não prenderá mais os meus pés,
À minha volta não haverá sombras...
Só cor..., amarelo, azul, vermelho,
Cor branca...!
Serei, quiçá, um anjo...
Ou, simplesmente, uma borboleta...!

EM - CONEXÕES ATLÂNTICAS IX - COLETÂNEA - IN-FINITA

Esta canção - Maria Alice Bragança

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Há anos não escuto
esta canção.

Hoje que desafino,
desatino desse destino.

Dentro de mim,
fuga em mi menor.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA