quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Pétalas - ONDJAKI
aprecio muito a redondez do mundo,
flores e pétalas
apontadas numa direcção amarela
verdades doces como mangas
[gosto de mangas com fio - dão sorrisos mais amarelos].
um dia veio o vento e as pátalas esvoaçaram.
ficou triste a flor
ficaram livres as pétalas
EM - MATERIAIS PARA A CONFECÇÃO DE UM ESPANADOR DE TRISTEZAS - ONDJAKI - CAMINHO
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Oráculo - CORSINO FORTES
Quando o arquipélago aperta
perto! longe
A mão dos continentes
Quando a ilha rasga no deserto
uma cicatriz de pedra
Iamais o crânio de sol! no mastro da solidão...
Uma pedra no deserto + um dragoeiro
Um anjo da guarda! no útero da paisagem
Não! na ilha
Toda a palavra é útero de sete pedras
E
Toda a pedra é um poeta bissexto
Leva quatro anos de pudor
E quarenta & tantos de paixão
Para inundar o deserto da estiagem
Com o dilúvio de chama que bebe
Nas crateras do jazz & batuque da esperança
EM - A CABEÇA CALVA DE DEUS - CORSINO FORTES - DOM QUIXOTE
perto! longe
A mão dos continentes
Quando a ilha rasga no deserto
uma cicatriz de pedra
Iamais o crânio de sol! no mastro da solidão...
Uma pedra no deserto + um dragoeiro
Um anjo da guarda! no útero da paisagem
Não! na ilha
Toda a palavra é útero de sete pedras
E
Toda a pedra é um poeta bissexto
Leva quatro anos de pudor
E quarenta & tantos de paixão
Para inundar o deserto da estiagem
Com o dilúvio de chama que bebe
Nas crateras do jazz & batuque da esperança
EM - A CABEÇA CALVA DE DEUS - CORSINO FORTES - DOM QUIXOTE
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Sentidos EMANUEL LOMELINO & VERA SOUSA SILVA
Sigo o movimento dos corpos
e tiro sorrisos
da gaveta dos sonhos
onde as memórias se amontoam
em folhas de beijos perdidos.
Vejo-te na nudez do crepúsculo
e sussurro-te no toque leve
da chama que toca a lareira
embriagada.
Perpetuo essa vontade grávida
e esboço confidências
recolhidas no âmago
onde se escondem passados
na ampulheta do querer.
Sinto-te na aurora do desejo
e escuto a voz silenciosa
da universal brisa selvagem
que te revela.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Soneto de Londres - VINICIUS DE MORAES
Que angústia estar sozinho na tristeza
E na prece! que angústia estar sozinho
Imensamente, na inocência! acesa
A noite, em brancas trevas o caminho
Da vida, e a solidão do burburinho
Unindo as almas frias à beleza
Da neve vã; oh, tristemente assim
O sonho, neve pela natureza!
Irremediável, muito irremediável
Tanto como essa torre medieval
Cruel, pura, insensível, inefável
Torre; que angústia estar sozinho! ó alma
Que ideal perfume, que fatal
Torpor te despetala a flor do céu?
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - VINICIUS DE MORAES - DOM QUIXOTE
domingo, 27 de janeiro de 2013
Saltos altos - VERA SOUSA SILVA
Ela chegou de vermelho.
Vermelho nos lábios,
vermelho na seda do vestido.
Ele beijou-a
e suavemente acariciou
o corpo macio.
Despiu-a
e era vermelho
o tom interior
daquela lingerie rendada.
Os sapatos,
de saltos altos,
vermelhos,
fizeram parte do momento
que cinicamente ele comprou.
Ela chegou de vermelho,
e saiu vermelha
de nojo e de raiva.
EM - BIPOLARIDADES - VERA SOUSA SILVA - LUA DE MARFIM
sábado, 26 de janeiro de 2013
IV - EGÉRIA
O Beijo que te queria dar
Poderia ser só um,
Ficaria feliz, pois passaria a ser só meu.
Desejo-te tanto que acaricio a minha mente ao pensar em ti,
O meu corpo deixa de ser meu, e passa a ser teu,
Consigo sentir que te toco em demasia,
É excêntrico o meu tocar.
O teu corpo é um esconderijo,
Com várias portas d'oiro que ao abrirem emanam
Perfumes e silêncios idílicos,
Que me deixam em êxtase profundo...
Ai como te adoro!
EM - A ESPIRAL DO AMOR - EGÉRIA - TEMAS ORIGINAIS
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
As rosas - JOÃO MANUEL BRETES
Afasta de ti esse silêncio,
afasta-o com as mãos
com que enterraste as rosas,
as duas bem juntas,
nos campos de Acra;
Nos extremos da noite
as pétalas já não têm brilho,
um cordão de cinza
atravessou a sua luz.
EM - POEIRA - JOÃO MANUEL BRETES - CAMINHO
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Jorge de Montemor - XAVIER ZARCO
Nasce o poema,
a palavra,
a sementeira do verbo,
da música.
Lo deseo,
eres la palabra
susurrada
de todos los rios.
Tal vez
la palabra amor.
Talvez
a palavra dor.
Talvez.
EM - MONTE MAIOR SOBRE O MONDEGO - XAVIER ZARCO - TEMAS ORIGINAIS
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Cair da noite - RUI KNOPFLI
Ao cair da noite, no declive que leva
a Estrada do Zixaxa ao Largo do Xipamanine,
o ar empregna-se do cheiro enjoativo
ao o'canhe que fermenta nas latas, sem que
a teimosia do cachimbo friorento o dissipe.
Virão as bebedeiras, cantigas, imprecações,
a ocasional briga, sem consequências que o sono
não cure. A humidade empresta um brilho
ao asfalto precário, onde as estrelas
do sul insistem cintilar. Cumpridor,
Ernesto acabou o jantar dos patrões
(sopa de legumes, peixe-serra frito
com arroz de tomate) e desce a escada
rumo ao seu refúgio, Aí irá fumar
a seruma do esquecimento. Ao cair da noite.
EM - O MONHÉ DAS COBRAS - RUI KNOPFLI - CAMINHO
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Oficina irritada - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vénus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - RELÓGIO D'ÁGUA
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vénus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - RELÓGIO D'ÁGUA
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Sankarah - ONDJAKI
se olhando o céu
na cortina cinzenta de cada árvore
eu te pudesse alcançar,
cada sonho meu chamar-se-ia dia
e eu de noite não mais
cerraria os olhos
nem saberia pedir a pálpebra alguma
que se deitasse noutra.
se num sopro astral - ou pequeno -
eu um salto desse,
tomaria por espada um destes galhos
e pediria à morte para matar o tempo
ao contrário.
e na bruma cinzenta de cada àrvore
tu poderias - sorriso manso -
voltar a acontecer.
EM - DENTRO DE MIM FAZ SUL/ACTO SANGUÍNEO - ONDJAKI - CAMINHO
domingo, 20 de janeiro de 2013
Canção - CECÍLIA MEIRELES
Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anémona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo...
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo...
EM - ANTOLOGIA POÉTICA - CECÍLIA MEIRELES - RELÓGIO D'ÁGUA
sábado, 19 de janeiro de 2013
Ipanema, 1977 - ANTÓNIO BORGES COELHO
O peito avança e os braços mas são
as pernas e os pés
em golpes de tesoura
sobre o pedal
que cortam o ar cálido
As ciclistas pedalam
entre coqueiros e o mar
na mancha gárrula
da multidão movente
A faca cai do alto
corta líquida
o fruto verde
a boca suga
a água descoberta
O mar é mole
Cidade de água
no céu
na terra
nos corpos
Morro nos morros
EM - AO RÉS DA TERRA - ANTÓNIO BORGES COELHO - CAMINHO
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
O silêncio - MANUEL BANDEIRA
Na sombra cúmplice do quarto,
Ao contacto das minhas mãos lentas,
A substância da tua carne
Era a mesma que a do silêncio.
Do silêncio musical, cheio
De sentido místico e grave,
Ferindo a alma de um enleio
Mortalmente agudo e suave.
Ah, tão suave e tão agudo!
Parecia que a morte vinha...
Era o silêncio que diz tudo
O que a intuição mal adivinha.
É o silêncio da tua carne.
Da tua carne de âmbar, nua,
Quase a espiritualizar-se
Na aspiração de mais ternura.
EM - ANTOLOGIA - MANUEL BANDEIRA - RELÓGIO D'ÁGUA
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Erro poético - MIA COUTO
Sou o açucar
procurando a formiga.
Meu carreiro
não tem linha.
É um ponto, um planetário grão.
A minha natureza
é uma inacabada caligrafia:
apenas os erros me defendem.
O amor apenas
me rasura a alma.
Com a formiga
partilho alucinogénios:
migas de paixão, migalhas de doçura.
EM - TRADUTOR DE CHUVAS - MIA COUTO - CAMINHO
procurando a formiga.
Meu carreiro
não tem linha.
É um ponto, um planetário grão.
A minha natureza
é uma inacabada caligrafia:
apenas os erros me defendem.
O amor apenas
me rasura a alma.
Com a formiga
partilho alucinogénios:
migas de paixão, migalhas de doçura.
EM - TRADUTOR DE CHUVAS - MIA COUTO - CAMINHO
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
XXVIII - EUGÉNIO DE ANDRADE
Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha,
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do próprio coração.
Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
a brancura das palavras maduras
ou o medo de perder quem me perdia.
Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até sentir
o meu sangue jorrar nas próprias fontes.
EM - PRIMEIROS POEMAS/AS MÃOS E OS FRUTOS/OS AMANTES SEM DINHEIRO - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
O seu corpo perfeito, linha a linha,
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do próprio coração.
Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
a brancura das palavras maduras
ou o medo de perder quem me perdia.
Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até sentir
o meu sangue jorrar nas próprias fontes.
EM - PRIMEIROS POEMAS/AS MÃOS E OS FRUTOS/OS AMANTES SEM DINHEIRO - EUGÉNIO DE ANDRADE - ASSÍRIO & ALVIM
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
5 Haiku - CASIMIRO DE BRITO
1
Não separes a água
da sua espuma -
a vida é só uma
4
Em tudo há velhice
e nascimento - um pé repousa,
outro caminha
10
Um filho nasce.
Núpcia da suprema dor
com a maior alegria
41
Pesa-me nos ombros
o pó dos caminhos
que não percorri
70
Poeta audacioso -
ousa decifrar as sombras
da luz original
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Zé Pecado e o dueto preto e branco - DELMAR MAIA GONÇALVES
Zé Pecado
foi para o lado dos negros
e levou um empurrão
com um clamor de vozes:
- Sai daqui seu misto sem bandeira,
sai daqui seu misto sem bandeira!
Com lágrimas vertendo
foi para o lado dos brancos onde ouviu um eco de vozes
clamando: - Sai daqui seu preto, sai daqui seu preto!
Perante tal situação,
Zé Pecado arregaçou as mangas
e desesperado gritou:
- Somos irmãos
negros e brancos
somos irmãos!
Reina desde então
um silêncio suspeito.
EM - SOB EPÍGRAFE - TRIBUTO A JOSÉ CRAVEIRINHA - TEMAS ORIGINAIS
domingo, 13 de janeiro de 2013
Vida - MIGUEL TIAGO
quero-te debruçada em mim,
e sentir-te, um beijo, um ensejo,
a pele encostada ao meu núcleo mais profundo,
onde moram os meus significados e segredos.
quero-te, como se pudesses mergulhar-te,
aprender-te ao sabor do vento,
soprar-te, puxar-te a mim,
foras a vida que se me foge,
spiritu, espírito nu.
EM - LETRAS ÍGNEAS - MIGUEL TIAGO - LUA DE MARFIM
sábado, 12 de janeiro de 2013
Apenas mulher - ANGELINA ANDRADE
Não preciso de uma bússula que me guia
Nem de um teto, nem do tacto das palavras
Mas da tua boca devorando a minha boca
E de tuas mãos no meu corpo desvairadas
E são de Abril, as palavras que dizemos
E são rubros os cravos que mordemos
E eu sou o fogo, a forja incendiada
E tu o aço, onde talhas tua espada
EM - NAS ASAS DE SIMORGH - ANGELINA ANDRADE - TEMAS ORIGINAIS
Nem de um teto, nem do tacto das palavras
Mas da tua boca devorando a minha boca
E de tuas mãos no meu corpo desvairadas
E são de Abril, as palavras que dizemos
E são rubros os cravos que mordemos
E eu sou o fogo, a forja incendiada
E tu o aço, onde talhas tua espada
EM - NAS ASAS DE SIMORGH - ANGELINA ANDRADE - TEMAS ORIGINAIS
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
Manipulação de imagens - JORGE NUNO
Oh onírico e subtil modo de ver
O meu estranho e duplicado mundo!
Se com ferramentas comuns da consciência
Umas vezes manipulo imagens
E noutras sou manipulado por elas...
Como gostaria de lhes dar uso
Através do órgão especial da consciência,
Transportá-las para projecções futuras
E, sem tocar o meu despertador interno,
Partir do sonho para o estado de vigília
E modificar a realidade desperta.
EM - PALAVRAS NOSSAS II - ANTOLOGIA - ESFERA DO CAOS
O meu estranho e duplicado mundo!
Se com ferramentas comuns da consciência
Umas vezes manipulo imagens
E noutras sou manipulado por elas...
Como gostaria de lhes dar uso
Através do órgão especial da consciência,
Transportá-las para projecções futuras
E, sem tocar o meu despertador interno,
Partir do sonho para o estado de vigília
E modificar a realidade desperta.
EM - PALAVRAS NOSSAS II - ANTOLOGIA - ESFERA DO CAOS
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Folhas de outono - ANA ALMEIDA
LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA EDITORA
Dissipadas sob os passos rastejantes,
Em mil tons de castanho matizadas,
São o tapete, o soalho das calçadas,
Que se pisam sob o frio massacrante...
Das alturas docemente vão tombando
Sob a brisa que, ao de leve, deambula.
Mariposas que, p'lo espaço, vão voando,
São a diva dos artistas da pintura!...
Mutiladas pelo tempo inconstante,
Suas páginas, dentadas com subtileza,
São o livro, cujo texto atraente...
Contém os 4 elementos da Natureza...
O fogo num sol aceso...
A água do orvalho que escorre...
O ar de um vento denso...
A terra na essência que deu forma!!...
EM - DE-LÍRIOS - ANA ALMEIDA - CHIADO EDITORA
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Teatro e cultura com vera san payo de lemos - MARIA TERESA DIAS FURTADO
Voz e mãos abrem o mundo do teatro,
o puro acontecer. Fazem-nos ver
o fundo da alma, a luz da vida,
suas sombras e sinais, seus paradoxos
em movimentos no texto nos textos
na sequência do apaixonado trabalho
que aponta caminhos livres de possível saída.
Do impacto da surpresa nasce o texto do espectador
que acorda, concorda, discorda, repensa as emoções
que a ele o devolvem
ora levando-o a refazer memórias,
ora espaços, a casa dos afectos, dos labirintos,
o campo aberto de desenhos habitados
de histórias que contando nos contam
e canções que nos tocam e embalam
ao fio do acontecer extremo e íntimo
visível e invisível no mistério de cada
homem, mulher, jovem, velho.
Tantas luzes nos desenham a vida
tantas palavras nos prendem ao ar.
Tudo pode começar e recomeçar:
Na reinvenção do mundo em cena
para todos há lugar.
EM - O ARCO DO TEMPO - MARIA TERESA DIAS FURTADO - LUA DE MARFIM
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Olhar longe - JOSÉ LUÍS OUTONO
Neste miradouro
Cego-me de esperas
Da tua mão
Que corre longe
Do teu sorrir que esfumou
Do teu gracejo hoje sentença
Apenas sei de cor os teus desafios
E na nudez da minha seara
Já não lhes pertenço.
EM - MAR DE SENTIDOS - JOSÉ LUÍS OUTONO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA
Cego-me de esperas
Da tua mão
Que corre longe
Do teu sorrir que esfumou
Do teu gracejo hoje sentença
Apenas sei de cor os teus desafios
E na nudez da minha seara
Já não lhes pertenço.
EM - MAR DE SENTIDOS - JOSÉ LUÍS OUTONO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Rostos de nuvens - CARLOS TEIXEIRA LUIS
rostos de nuvens
abraçam os tentáculos
do tempo
penso que os conheço
sonho com esses rostos
já por anos
iluminam
o meu quintal das estrelas
banhadas em sangue espanhol,
ah, rostos de nuvens
dançam
lacrimejantes.
EM - HISTÓRIAS DO DESERTO - CARLOS TEIXEIRA LUIS - ATELIER
domingo, 6 de janeiro de 2013
Extremos - LUIS DA MOTA FILIPE
Às vezes sou teu, outras vezes do vento
Às vezes sou tudo, outras vezes não sou nada
Às vezes escondo-me por detrás das portas abertas
Outras, teimo em brilhar na imensidão do escuro
Às vezes sou o amor que não passa de moda,
Outras, a indiferença castigadora que fere como punhais
Às vezes sou um sopro de vida... um porto de abrigo
Outras, sou páginas de desalento... um livro à deriva
EM - SENTIMENTO MAIOR - LUIS DA MOTA FILIPE - CHIADO EDITORA
sábado, 5 de janeiro de 2013
Estrada Real - RICARDO BRAGANÇA SILVEIRA
A via que nos serve no presente
Outrora chamada de estrada real
Foi sempre um orgulho que se sente
Por todo o nosso Portugal
Hoje em dia muitos passam
Nesta estrada Nacional
E pelo forte assim passam
Pelos caminhos de Portugal
À sua beira já houve
Campos de oliveiras e trigais
Os antepassados louvaram
Actos tão bons que tais
Dantes os cavalos e as charretes
Eram os veículos que aqui passavam
Agora com os carros te metes
Mesmo quando poucos a usavam
Estrada Real do nosso orgulho
Do passado glorioso
Sem os montes de entulho
Num futuro auspicioso
Quando por ti passo
Fazes-me lembrar a glória
Mesmo que pelo amasso
Ou pela continuidade da nossa história
EM - ACORDAR VIVO - RICARDO BRAGANÇA SILVEIRA - TEMAS ORIGINAIS
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
Somos peças de xadrez - BELMIRO BARBOSA
Se o vento me deixa ser eu outra vez,
Por uns instantes, o mundo é melhor.
Mundo em que somos peças de xadrez,
Que alguém nos muda sem ver em redor.
São bons em tudo que se concretize?
Eu não consigo fugir ao dever,
Há quem consiga, há quem desvalorize.
Ser cumpridor é sinal de poder?
Vamos ser mais peões, de mãos atadas,
Vamos só falar antes que nos calem.
Inclinar o tabuleiro, há razões!
Somos peças de xadrez mal jogadas,
Umas valem mais que outras.Ai se valem!
A maioria peões, só peões?
EM - SÓ CEM SONETOS - BELMIRO BARBOSA - CHIADO EDITORA
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Usurpa-me... e guarda-me - FRANCISCO VALVERDE ARSÉNIO
Usurpa-me as palavras
com os teus lábios,
suga-me as vogais
que guardo esquecidas num recanto
e as consoantes
presas nas sombras da minha alma.
Usurpa-me o suor
que se desprende do meu corpo
e se entranha no teu,
usurpa-me o lençol
que afasta a tua pele da minha.
Usurpa-me as marés infinitas
com o balançar
descompassado das tuas ancas
e o beijo prolongado
dado no prefácio
deste livro que escrevemos.
Usurpa-me os dedos andarilhos
e guarda-os no cofre
dos segredos,
e usurpa-me a noite
para que sejas sempre madrugada.
Usurpa-me o sol
quando fazemos amor
à luz ténue da lua...
Usurpa-me...
Usurpa-me o corpo...
Mas guarda-me em ti.
EM - 1ª ANTOLOGIA UNIVERSUS - VÁRIOS - UNIVERSUS
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Cronofobia - MAFALDA FERREIRA
Tempo fugitivo
Tempo demorado,
Indeciso entre correrias
És aqui o que não és ali
E toda a gente te anseia.
Tão cobiçado,
Trais em silêncio
Trazes contigo memórias entorpecidas
E por aqui permaneces.
Como se o passado regressasse
E convergisse com o futuro.
Sabes de ti tão pouco
Que chegas a dividir-te em mil almas,
És tempo de partida
És tempo de chegada,
E, no entanto, não és nada.
Mera fobia ilusória
Assombras a alma frágil
Percorres um corpo de forma desumana
E mudas uma vida.
EM - OS MEUS SONHOS NAS TUAS MÃOS - MAFALDA FERREIRA - WAF
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Eis a mulher com que o poeta sonha* - AMADEU BAPTISTA
Eis a mulher com que o poeta sonha.
São crinas a sua cabeleira leonina
e os seus olhos um manancial
de lâmpadas de incenso em que ardem
os anais do tempo e do desejo.
Às vezes o seu rosto é o universo.
E, outras vezes, uma ascensão animal
em que há silêncios de íris incendiárias
e tarmagueiras em flor,
soltando acordes de cristal e jaspe
sobre a lua. A mulher canta
e o poeta acaricia-lhe os seios
nus, em busca da luz
absoluta.
EM - ATLAS DAS CIRCUNSTÂNCIAS - AMADEU BAPTISTA - LUA DE MARFIM
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