Mágoas - ANA PAULA FILIPE

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Que mágoas se expressam no pranto
Que eu te quero afagar
Secar os teus olhos das lágrimas
E sentir em ti o espanto
Por tanto te querer amar.

Se em mágoas assim te perdes
Não percas tu a noção
E na dor não desesperes
Pois também em algumas mágoas
Se forma um bom coração.

EM - CONVERSAS DA ALMA - ANA PAULA FILIPE - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Avidez - SANDRA SUBTIL

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Lânguida
Nua
Entorpecida
Fixa o lençol amarrotado
Onde preso ficara o prazer.

Nas vidraças da janela
Escorrem ainda gotas de volúpia
E paira no ar uma silenciosa melodia
Composta por plangentes gemidos.

Sôfrega suspira:
"Onde foste, tocador de sonhos?
Vem tomar-me em teus braços
E solta na minha pele notas por inventar,
Existentes muito para além da escala musical".

EM - DO RIO QUE HÁ EM MIM - SANDRA SUBTIL - CHIADO EDITORA

A festa da espiga - FRASSINO MACHADO

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As flores do campo tão formosas e prazenteiras
Vi-as passar nas ruas de mão em mão
E, atadas com sorrisos de Verão,
Vendidas eram com carinhos de mil maneiras.

Num dia de calor com vagas de Suão
Vão passando as espigas em bandeiras
De amor primaveril e brincadeiras
Trazendo aroma d'amizade ao coração.

As crianças não conhecendo a Natureza
Não podem apreciar a indígena beleza
E o campo faz paragem na cidade...

Acontece o milagre suavemente -
Que a Natureza mexe em toda a gente -
Fazendo que a Esperança nunca perca a idade!

EM - MUSA VIAJANTE - FRASSINO MACHADO - CHIADO EDITORA

Perdoar não é esquecer - NUNO FREITAS

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Perdoar é não guardar rancor.

É saber viver sem se vingar

do mal de alguém que vive na dor.

Perdoar é esquecer no amar.

Perdoar é mergulhar nas profundezas

da impossibilidade do esquecimento.

É querer rasgar as tristezas

que se vão atando ao pensamento.

Perdoar é escutar o amor

que resiste, que quer lutar.

É nesta vida ser o actor

que na mentira aprende a representar.

Perdoar é matar as fraquezas

que nos atormentam o sentimento.

É saber que as certezas

apenas se encontram no firmamento.

Perdoar não é esquecer.

É apenas a promessa

do que um dia quereremos viver.

EM - EFEITOS SECUNDÁRIOS DA LOUCURA - NUNO FREITAS - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Destino - SEMEANO OLIVEIRA

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Há que ir à luta, que a vida é curta...
Longa é a vida, para quem ousa encontrar o seu sentido...
Longa é a vida para quem vai além do conhecido,
temos que nos enfrentar de peito feito,
Saber de que massa somos feitos,
Lutar contra o tempo que é cruel,
Que não pára de marcar a nossa pele
Há que fazer a nossa vontade e dizer:
Nesta zona de desafio...
Eu brinco com o divino...
Eu para a vida sorrio...
Porque sou eu quem faz o meu destino!

EM - GRAPHEIN - COLECTIVO DE AUTORES - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Nos momentos difíceis - FRANCISCO ROQUETTE

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Nos momentos difíceis
Tenho nuvens ao meu lado, e tu.
Tenho luz directa nos olhos, e tu.

Na dúvida, na incerteza, na turbulência,
                                         o teu equilíbrio híbrido equilibra-me.

Viajo ao vento norte por vezes,
                                                   e ali estás, farol e porto.
Sorris e os meus barcos p'ra ti navegam com bússolas árabes.

O teu modus vivendi exemplifica, fica,
desconstrói, rói, mói,
destrama, ama,
e é quente cama,
quente.

EM - PALAVRAS SUBMERSAS - FRANCISCO ROQUETTE - CHIADO EDITORA

Poema - SIMONE MARTINS

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Em lume brando aqueço os meus pensamentos,
Em águas tépidas lavo o meu conforto.
No horizonte lanço a minha saudade
Na montanha repouso o meu ser.
No oceano profundo semeio o meu chorar
Nas estrelas sinto o meu pulsar
Nos olhos vadios de um gato preto lanço o meu feitiço,
De te roubar ao luar
Rumo pela vida sem descanso, sem anseios ou avidez de te perdoar.
Mas ando pelo universo com vontade de te amar.

EM - TOQUE DA ALMA - SIMONE MARTINS - CHIADO EDITORA

Perdição - ALVES DOS SANTOS

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Romance terminado
Capitão naufragado
Olhos lassos
Lágrima derramada
Choro contido
Rancor espalhado
Consciência pesada
Sorriso gasto
Beijo interrompido
Mãos geladas
Gestos vazios
Coração quebrado
Fogo apagado
Amor afogado
Fé abalada
Sol implodido
Batalha perdida

EM - FRAGMENTOS DO QUOTIDIANO - ALVES DOS SANTOS - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

O tempo - JOSÉ MANUEL FIGUEIREDO

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o tempo é como uma manivela
e o vento uma fábrica de algodão
e sabe deus que a noite é uma cancela
sempre fechada por trás de um portão
e se a estrela se apaga acende a vela
o seu fiozinho amarelo o capitão
nesse pé sem sapato a cinderela
põe toda a sua vida pois então
e nada é grande nem pequeno
é tudo o que é coisa somente
entre as coisas igual mas diferente
passa o inverno vem o verão ameno
daquilo que somos fica o que pensamos
como um ramo quebrado entre os ramos

EM - UM MUNDO DE FACAS - JOSÉ MANUEL FIGUEIREDO - CHIADO EDITORA

Noite perdida - GONÇALO LEAL

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Que devia eu ter-te dito
para que a noite fosse mais longa
e o caminho mais curto?
Que forças em ti poderia invocar,
para que esquecesses a chuva lá fora
e desprezasses o medo de estender o desejo?
Ainda esperei que o olhar bastasse
e nele pudesses ler todo o calor que nos move.
Sim, eu sei que sim,
que o brilho desse fogo te iluminou.
Conheço a sua linguagem
e é talvez por isso que mais doeu dentro
a negação da vontade.

EM - SILÊNCIO - GONÇALO LEAL - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Braga - CLÁUDIO AMÍLCAR CARNEIRO

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Tu és a Roma deste Portugal,
Nobre e antigo como a tua Sé.
E como tu, também, vai pela fé,
Dos nossos bisavós o mesmo ideal.

Deidade do esplendor, vate imortal,
Eu canto e cantarei tua mercê
Enquanto o permitir a Musa, que é
Dever de um trovador cantar quem vale.

Atónito perscruto o infinito
Fitando ao longe a linha do horizonte,
Descortinando para lá dos céus.

Por vezes me interrogo e a sós medito,
Se é Deus Quem irradia a tua fronte,
Se a tua fronte é que irradia Deus.

EM - O DESPERTAR DA ALMA PORTUGUESA IN SONETOS - CLÁUDIO AMÍLCAR CARNEIRO - CHIADO EDITORA

11 - ALVARO GIESTA

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Abrem-se-me crateras no crânio...

dentro delas
invenções em danças macabras

erguem-se
no sono mineral do musgo
que (me) nasce
entre o pensar e o esquecimento.

Escrevo um verso, como se
esse verso fosse o talismã do poema
por nascer...

na urgência da minha mão
aberta,
apenas
o caminho da árvore entre
o azul do céu e o mar.

EM - SOBRE O ROSTO DO CORPO - ALVARO GIESTA - EDIÇÃO DE AUTOR

Apenas hoje... - VÍTOR. C

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Deixa-me sentar a teu lado,

sentir que hoje sou o teu protegido,

o teu menino querido,

aquele que perto de ti estaria

e para quem tu olharias com carinho,

num desvelo meigo e terno,

bem para além do eterno

de onde sinto que, finalmente, me vês...

Deixa-me sentar perto de ti,

sentir que o calor do teu corpo

se fez nascer todo ele para mim,

que os teus braços são fitas de cetim

esvoaçando, truque ilusionista,

enlaçando-me como oferenda de Natal,

e fazendo com que os meus olhos infantis

fiquem maravilhados perante a magia

e recusem deixar de fazer parte da ilusão

e do momento inesquecível que criaste...

Deixa, apenas hoje, eu ser o teu único

e sentir que nasci para estares comigo...

EM - SOU TEU - VÍTOR. C - CHIADO EDITORA

Menina linda - ADELINA CHARNECA

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Entre lençóis de trigo dourado
despertou ela (o sol) num dia nublado
entre papoilas amarelecidas,
chegou nos ventos
de tudo esquecida,
menina formosa
de olhos de linho,
respirando fundo,
dizendo baixinho,
amor desta vida,
luz dos olhos meus
tu,
nunca mais,
me digas adeus.

EM - POESIA DE SILÊNCIOS - ADELINA CHARNECA - CHIADO EDITORA

Era Verão - NANDA ROCHA

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Era Verão quando te conheci
Logo em mim ficou esta certeza
Magnetizada tua voz segui
Enfeitiçada e de amor tão presa.

Quis fugir de ti mas não consegui
Foi como se fosse um doce feitiço
O brilho do teu olhar que então vi
Enlaçou meu peito num compromisso.

E foi tão sincero e tão leal
O puro amor que por ti senti
Que passou por mim um vendaval

Vacilei, tropecei, quase caí
Não parecia Verão, nem tempo estival
De frio ou de amor toda eu tremi.

EM - BRISA POÉTICA - NANDA ROCHA - POESIA FÃ CLUBE

Carta de amor - JOSÉ FERNANDO DELGADO MENDONÇA

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não te escrevo
há muito tempo
e tenho saudades
de receber
uma carta tua
estou contigo
todos os dias
mas preciso
de te enviar
palavras
que possas ler
todos os dias
quero que tenhas
a certeza
que o meu amor
não é só feito
do dia a dia
mas que tem
o perfume
de um amor
eterno

EM - DIAS CLAROS - JOSÉ FERNANDO DELGADO MENDONÇA - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Com amor - CELSO CORDEIRO

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Mãe,
pequena grande palavra,
que toca pela beleza
os qualificativos opostos
de designação de grandeza.

Mãe,
classificação de mulher,
lugar-comum porque vulgar,
que é estado de plenitude
na conjugação do verbo Amar.

Mãe,
mais do que ser mulher,
do que esposa e amante,
é ser ímpar e sublime
pela criação de outro Ser.

Mãe,
porque é o teu dia,
neste render de homenagem
te venero, e reclamo
para ti eterna dignidade.

EM - SENTIRES... POR TRÁS DE UM SORRISO - CELSO CORDEIRO - CHIADO EDITORA

Somos pontos minúsculos - ALVARO GIESTA

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Somos pontos minúsculos
na imensidão da chana...

o sol perdeu há pouco o tom
ensanguentado...
ergue-se agora áspero
abrasivo
em toda a imensidão da terra

Apenas capim...
à nossa frente apenas um mar imenso
de capim
um mar de incerteza
sem ondas bravias mas tão traiçoeiro

Saímos do terror noturno
e da surpresa traiçoeira da madrugada
ardilosa
para nos lançarmos na travessia
desta chana tão extensa

Sabemos que do lado de lá
nos espera
a sombra acolhedora das copas das árvores
mas também a morte traiçoeira
da emboscada

EM - HÁ O SILÊNCIO EM VOLTA - ALVARO GIESTA - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Inquietação - ANA CASANOVA

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Acordo palavras

Inquietas...

Revolvem o meu âmago

Sempre expectante na mudança

Proponho-me a um novo destino

Longe de momentos

Mornos e rotineiros

Certezas e evidências (Gastas)

Negando todas as limitações.

Afinal, quem sou eu?

Procuro-me...

EM - A RAZÃO DO POEMA - ANA CASANOVA - EDIÇÃO DE AUTOR

Ateus - A. M. GUERREIRO

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Tudo vive de aparência
Pose, discurso formal...
Tudo vive na demência
E padece desse mal.

Descobrimos novo Deus
Do consumo e produção
E o tempo fez-nos ateus
Fez do Homem solidão.

EM - FAL(H)AS - A. M. GUERREIRO - CHIADO EDITORA

Almas perdidas - ANA PAULA FILIPE

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Nos confins da alma perdida
Quantos sonhos por revelar
Cansados de uma vida sentida
Que há muito deixou de amar.

Almas que não vêem a razão
De não deixar de sonhar
Que não escutam o coração
E não sabem mais amar.

Se todo o mundo quisesse
Ao mundo todo se entregar
Não haveria mal que viesse
Em nosso mundo habitar.

EM - CONVERSAS DA ALMA - ANA PAULA FILIPE - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Pena capital - ALVES DOS SANTOS

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O tempo leva tempo
Arrastado entre paredes gastas
Que cerceiam a liberdade
E soltam a frustração

O tempo leva alma
Atormentada por crimes de sangue
Num ato tresloucado
Que o persegue
E lhe nega a redenção

O tempo leva vida
Castigo humano para o seu pecado
Numa compensação pela vida tirada
Que nunca se consuma

O tempo leva tudo
Apagando da sua memória
A sua própria vida perdida
Que finda sem história

EM - FRAGMENTOS DO QUOTIDIANO - ALVES DOS SANTOS - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA 

Poesia maior, poesia menor - FRASSINO MACHADO

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Não se entra num jardim p'ra catalogar flores
Mas sim pr'as admirar sentindo os seus odores;
Não vai à tasca um esfaimado p'ra dançarilhar
Mas sim porque precisa de se alimentar.

Não vai ao mar o pescador p'ra divertir
Mas sim, e só, para o seu peixe descobrir;
Não vai à terra o lavrador p'ra se entreter
Mas sim, e só, para os seus frutos recolher.

Não volteia n'arena em vão qualquer atleta
Mas sim porque ele quer chegar primeiro à meta;
Não escrevinha o poeta só por fantasia
Mas sim, e só, porque tem o sonho da Poesia.

A poesia não é nem maior nem menor
É apenas POESIA, como no jardim a Flor!

EM - MUSA VIAJANTE - FRASSINO MACHADO - CHIADO EDITORA

10 - ALVARO GIESTA

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O vazio
na subtil passagem do teu nome,

o momento frágil
em que as diminutas mãos
se erguem
à inteligência da luz...

depois
no puro hálito da palavra
ascende-se ao aroma azul dos céus
nos lábios verdes da esperança.

EM - SOBRE O ROSTO DO CORPO - ALVARO GIESTA - EDIÇÃO DE AUTOR

As mentiras - SARA TIMÓTEO

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Como as sílabas, as meninas são
As sibilas do vórtice interior
Das verdades que construímos

Nelas nos amamos
Porque sabemos que nos destroem
Sem testemunhas
Sem testemunho
Sem testamento

EM - GRAPHEIN - COLECTIVO DE AUTORES - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

A tua ausência... - SANDRA SUBTIL

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É na tua ausência que paro de respirar
E tudo estagna em redor.
É na tua ausência
Que os pássaros não trinam, choram
E os lobos deixam de uivar.
É na tua ausência
Que a minha alma deambula por lugares inexistentes
E apenas o corpo está
[não estando].
É na tua ausência
Que sinto e sei o que é a dor.

EM - DO RIO QUE HÁ EM MIM - SANDRA SUBTIL - CHIADO EDITORA

Azul - SIMONE MARTINS

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Tu és bonito!
Eu sou curiosa!
Tu tens o perfume do mar.
Eu sou curiosa!
Tu tens a frescura da brisa marinha nos teus olhos.
E eu...
Hum!
Ao olhar para ti fico com tanto calor...

EM - TOQUE DA ALMA - SIMONE MARTINS - CHIADO EDITORA

Gaivotas azuis - FRANCISCO ROQUETTE

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Momentos destes, sem nada nos lábios,
atirado para dentro, ventilado
medos medo vertigem de nós
comunicado ao lado de lá
abutre de mim mesmo, porque de nós mesmos,
sei o quanto sol és,
                               quantas gaivotas azuis seguras nas mãos.

EM - PALAVRAS SUBMERSAS - FRANCISCO ROQUETTE - CHIADO EDITORA

Poema do elevador de santa justa - JOSÉ MANUEL FIGUEIREDO

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quanto me custa
este viver à justa
no meu elevador
de santa justa apertado
olhar condoído
o coração dormente
a mão quase sempre
bem rente ao ouvido

o rosto tão duro
e o corpo? estreito
pranchado direito
tão contra esse muro
a língua enroscada
(qual cobra no vale)
na boca fechada
e o resto é igual

ai quanto me custa
este viver à justa
no meu elevador
de santa justa apertado
olhar de garrote
a boca fechada
a corda esticada
da língua à glote

EM - UM MUNDO DE FACAS - JOSÉ MANUEL FIGUEIREDO - CHIADO EDITORA

Esquecer - GONÇALO LEAL

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Hoje não te vi.
Não te tenho visto.
Verdade que te vi uma única vez.
Afortunada vez, essa em que te vi.
mas lembro-me de ti, mesmo sem te ver.
Porque seguir em frente não é esquecer,
é lembrar de outra maneira.
Mais do que o beijo gravado na pele, é o gosto que fica
da saliva que refresca os sentidos.
E outras coisas que ficam dentro, para sempre.
Coisas lembradas no silêncio.
Coisas escritas em entrelinhas de folhas brancas
que ninguém lê.

EM - SILÊNCIO - GONÇALO LEAL - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Guerra Junqueiro - CLÁUDIO AMÍLCAR CARNEIRO

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Ó poeta genial e panfletário,
Foste monárquico e republicano,
Profanaste o altar, foste profano,
Apedrejaste Cristo no Calvário.

Manchaste a pedra de ara no Sacrário,
Na Cruz cuspiste... Para maior dano
Andaste com calvinos, mano-a-mano,
Da mesma propaganda solidário.

Da política já desiludido,
Voltaste à crença antiga de Jesus
No término da vida, arrependido,

Em poemas de oração ao pão, à luz...
Para o justificar, fazer sentido,
Ouviu-te em confissão o padre Cruz.

EM - O DESPERTAR DA ALMA PORTUGUESA IN SONETOS - CLÁUDIO AMÍLCAR CARNEIRO - CHIADO EDITORA

Deixa-me despir-te com o olhar - NUNO FREITAS

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Deixa-me abraçar-te com o olhar.

Sentir que és minha neste instante.

Desejo egoísta de quem te deseja.

Deixa-me em teu corpo desfolhar

temores de um vazio desconcertante

que tenta adormecer um amor que flameja.

Deixa-me beijar-te com o olhar

e sentir nessa boca ofegante

uma adrenalina que em mim se despeja

qual lobo desesperado que uiva ao luar.

Deixa de nos viver num limbo inquietante

que nossa paixão de dúvidas craveja.

Deixa-me seduzir-te com o olhar.

Revelar-me na condição de visitante

como se estranhasses este olho que te pestaneja.

Permite que me apresente devagar

para que me bebas o restante

e admires gota a gota este que corteja.

EM - EFEITOS SECUNDÁRIOS DA LOUCURA - NUNO FREITAS - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

O baile sonhado... - VÍTOR. C

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Distraída, ela olhava

para o frio e vago nada

que à sua volta rodava

no imenso salão de baile...

com olhos meio entristecidos,

os ombros já arrefecidos,

finamente protegidos,

por tricotado e rendado xaile...

Eis, então, que ele aparece

do nada, feito sua prece,

curvando-se, sua mão oferece,

e convida-a a dançar...

então, ela fez-se águia-real

nos braços dele, em voo triunfal,

desenhando uma dança surreal

sustendo toda a vida no respirar...

Todas as luzes da Terra se apagaram,

apenas as estrelas no céu brilharam,

cúmplices, as orquestras pararam

e, do som da música que se calou,

os olhos nos olhos amaram,

os corpos nos corpos colaram

e os pés rodopiando no ar dançaram

enquanto o suave sonho durou,,,

EM - SOU TEU - VÍTOR. C - CHIADO EDITORA

Gostar de ti - ADELINA CHARNECA

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Gostar de ti
é amar-te na diferença
amar-te
é querer-te
sentindo em mim
a tua presença
gostar de ti
é esquecer-me de mim,
gostar de ti
é sentir-te
sem ter-te sentido
querer-te em mim
em momentos de amor
ainda não vivido.

EM - POESIA DE SILÊNCIOS - ADELINA CHARNECA - CHIADO EDITORA

Dói tanto que já nem sei - NANDA ROCHA

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Tento entender a razão porque partiste
Se de mim todo o amor te dei
Quem te deu essa ordem que cumpriste?
Quem foi que elaborou tal lei?
Fiquei sem ver o brilho do teu olhar
A alegria franca do teu sorriso
Fiquei sem chão, sem terra, sem lar
Sem céu, sem sol, sem meu paraíso.
Partiste lentamente e eu não te ouvi
Comigo ficaram apenas meus ais
Meu silêncio é grito que a custo reprimi
É barco sem dono, ancorado no cais.
Sou como gaivota que na praia agoniza
Sou a plebe, sem reino e sem rei
Esta dor que no peito se eterniza
Dói tanto que já nem sei!

EM - BRISA POÉTICA - NANDA ROCHA - POESIA FÃ CLUBE

Passeio no parque - JOSÉ FERNANDO DELGADO MENDONÇA

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todas as tardes
passeio no parque
e sinto
a felicidade suprema
de ver
como tudo está sempre
no seu lugar
as folhas caem suavemente
nas águas azuis do lago
e eu aguardo
que o vento as leve
para as margens
então
toco nelas
e sinto
toda a força
da natureza
que me leva ali

EM - DIAS CLAROS - JOSÉ FERNANDO DELGADO MENDONÇA - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Musa - CELSO CORDEIRO

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Musa de meus devaneios,
meu vaguear no imaginário
e meu sonhar acordado,
palavras escritas versando,
razão de tantas alegrias e
momentos felizes partilhados,
minha sedução constante e
explosão em horas de prazer.

Origem de muitos medos,
o acordar de inseguranças,
fundamento de várias tristezas,
lágrimas vertidas, quantas,
lágrimas de felicidade,
lágrimas de desespero,
porque caminhar não é fácil
nem trilho único de mãos dadas
sem que cada um perca o rumo
do seu próprio caminho.

Musa que é presença constante
e razão de ser permanente
de tão diferentes sentires,
essa musa que é luz
e vida em mim.

EM - SENTIRES... POR TRÁS DE UM SORRISO - CELSO CORDEIRO - CHIADO EDITORA

O silêncio sepulcral - ALVARO GIESTA

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O silêncio sepulcral
depois de cada emboscada

nada se sabia
por minutos longos que pareciam horas...

Dissipava-se aos poucos o cheiro
da pólvora queimada...
dissipava-se o medo,
ficava apenas o suor a sangrar
do corpo
e no peito a dor...

No ombro ainda a dormência
e a marca
do coice da espingarda

No cérebro a dúvida se vale a pena
esta carícia
da pátria agradecida

Puta de pátria que tais filhos pares
para lhe agradeceres
aos coices!

EM  HÁ O SILÊNCIO EM VOLTA - ALVARO GIESTA - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Palavras difíceis - ANA CASANOVA

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Sinto-me impelida a escrever

Mas é tão difícil definir ou traduzir

Sentimentos por palavras...

Quero conduzi-las mas sinto

Que são elas que me conduzem

Quando falam por si mesmas.

Por vezes, ou tantas vezes

Escrevo o que não queria escrever

Porque não consigo escrever o que sinto...

EM - A RAZÃO DO POEMA - ANA CASANOVA - EDIÇÃO DE AUTOR

Talvez não - A. M. GUERREIRO

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Como tu já muitos foram
Muitos ainda serão
Como tu tantos choraram
Tantos riram e amaram
Como tu... ou talvez não.

EM - FAL(H)AS - A. M. GUERREIRO - CHIADO EDITORA

Duras penas - ANA PAULA FILIPE

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Se duras penas me aguardam
Neste meu feliz viver
Em intenções se escasseiam
De me fazer sofrer.

Penas que pequenas ficam
Conjugadas com o verbo amar
Penas que não se edificam
Se não deixar de sonhar.

Todas as pedras cortantes
Que atravessem meu caminho
As transformo em instantes
Num papel de pergaminho.

EM - CONVERSAS DA ALMA - ANA PAULA FILIPE - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Pausa - ALVES DOS SANTOS

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Quero deixar o tempo correr
Apoiado no teu ombro
Esquecer que o mundo existe
E sem palavras
Saborear este silêncio cúmplice
Que deixa o nosso olhar falar
Revelando sem alarde as nossas almas

Quero celebrar um pacto de amor
Que vigore para lá da nossa perecibilidade
E sem fazer sangue
Nos deixe uma marca no mais fundo do nosso ser
Eterna recordação desta perfeita sintonia
Capaz de nos transportar de volta para este momento

EM - FRAGMENTOS DO QUOTIDIANO - ALVES DOS SANTOS - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

Diógenes Araújo - FRASSINO MACHADO

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Dia de aniversário e de etiqueta
Inteiramente festivo e cantante
Ómega de feliz alfa iniciante
Gratificada vida circunspecta.

Eis, ó Diógenes, artista e asceta
Na arte de escrever sempre constante,
Em boa hora fica transbordante
Soneto oferta em honra do poeta.

Amorosa aptidão de sonetista,
Rara mestria, sábia instrução
Aliada a forte veia d'alquimista.

Único és, ó poeta de eleição,
Jovial alma espiritualista,
Onde baila a parnasiana paixão!

EM - MUSA VIAJANTE - FRASSINO MACHADO - CHIADO EDITORA

Estranhas contradições - SIMONE MARTINS

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No céu da incerteza,
Permanecem as sombras do desejo oculto,
Por onde voam figuras estranhas com mentes acabadas.
O vento da solidão corre sobre a superfície do misterioso oceanos da aventura.
Criam-se ondas de paixão com metros de vozes contraditórias.
Rebentam com uma força avassaladora sobre o desejo violento,
Que se desfaz numa espuma branca e perfumada,
Libertando o aroma do prazer oculto.

EM - TOQUE DA ALMA - SIMONE MARTINS - CHIADO EDITORA

Aquele beijo - ROSETE CANSADO

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No calor inibido dos meus lábios
Recordo o teu beijo
Esperando pelo meu
Numa fusão intensa de desejo
Recordo o teu olhar cerrado
Não por teres medo
Mas uma intensa sensação
Que na loucura do prazer
Ouvimos o cantar do coração
Um abraço, outro e outro
Num pôr do sol radioso
Válido para toda a vida
Num tempo que não foi nosso.

EM - GRAPHEIN - COLECTIVO DE AUTORES - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

8 - ALVARO GIESTA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR

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Este é o meu cavalo libertário
de nervos em frangalhos doloridos
mas teimoso:

persegue o seu caminho revolucionário
construído de diademas de silêncios
em absoluto sossego
desassossegado;

em estátuas verdes planto
ilhas luxuriantes de incertezas

nelas há tentáculos azuis
que vêem o desespero e não se inquietam
a vibrar a morte pelos canaviais
de um planeta qualquer.

Aí se ergue uma bandeira
nos ramos violentos
do vento
em revolta...

EM - SOBRE O ROSTO DO CORPO - ALVARO GIESTA - EDIÇÃO DE AUTOR

Faz uma visita à solidão - VÍTOR. C

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR

Faz uma visita à minha solidão...

abraça a minha tristeza

e saboreia o meu desalento.

Vê com os meus olhos,

percorre todas as minhas veias

e respira no sabor dos impulsos

do meu coração...

Invade o meu corpo,

veste a minha pele,

branca de vazio,

vive a minha vida

mas não sofras por mim...

Sê eu mesmo, por instantes

e, talvez, por instantes,

sintas a falta da alma

que eu perdi

por ti...

Tenho saudades de mim...

EM - SOU TEU - VÍTOR. C - CHIADO EDITORA

Dias cinzentos... - SANDRA SUBTIL

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Queria ser dona da mais bela inspiração
Usar palavras doces e belas
Aconchegar o mais frio coração.
Mas há uma névoa que me envolve, me tolhe o sonho e ceifa a ilusão.
Dias cinzentos estes em que o verbo se dissipa como
algodão doce na boca de uma criança.

EM - DO RIO QUE HÁ EM MIM - SANDRA SUBTIL - CHIADO EDITORA

Poeminha dos pardais - JOSÉ MANUEL FIGUEIREDO

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os pardais esses não sabem o que querem
e andam ali pelos campos como marionetas no estrado
só a lua lhes fala com seu fecho éclair
e mesmo isso era escusado

agitam-se como estrelas rebolando no éter
das suas asas com o corpo fechado
os girassóis tocam-lhes com o seu corpo de mulher
mas mesmo isso era escusado

que no fundo no fundo digam o que disserem
nenhum deles sabe ao que foi destinado
será que sabe deus sem eles saberem?
mesmo isso era escusado

EM - UM MUNDO DE FACAS - JOSÉ MANUEL FIGUEIREDO - CHIADO EDITORA

Coisa - GONÇALO LEAL

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Não vou mais dizer quem somos. ou o que somos.
Porque não sei.
Confunde-me a ideia de sermos alguma coisa.
Somos com certeza essa coisa,
mas se não sabemos o que é, fará sentido continuarmos a ser?
Pode ser que sim,
mas a continuidade do teu silêncio vai retirando
essência à indefinida coisa.
Ao perscrutar o vazio das palavras, percebo que deve
fazer algum sentido, porque também eu,
não concebo a ideia de sermos coisa alguma.

EM - SILÊNCIO - GONÇALO LEAL - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA