quarta-feira, 15 de novembro de 2017

48 - JOÃO AYRES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELO AUTOR
Saibam sobre o autor neste link

De tudo que sobrou os restos dos restos estão aqui
Por sobre a mesa como um tanto de qualquer coisa
Farelos de pão, restos de comida fria, restos de bebida no copo
Os restos destes restos nestas moscas e neste cão faminto e nesta casa e nestes escombros em carne e osso
O final neste final tão sem sentido como estas palavras frias e cambaleantes
O final nestes corpos cansados em final de noite
Neste silêncio de quem morre por motivo ignorado
Neste jeito de ócio no cheiro de gordura de uma panela secular
Neste desejo de matar o que quer que seja por motivo ignorado
Nesta sede inexplicável no deserto inóspito de uma alma atormentada.
  
De tudo que sobrou os restos dos restos estão aqui
Como uma saga maldita que se arrasta por anos a fio
Quando sinto esta ânsia de vômito naquele odor de desinfetante de cozinha
Naquele nada adiposo que esbravejava como um cão sem dono
Em alguém que tinha o hábito de ir de um cômodo a outro a contar as horas de seu exílio
No tal relógio preciso na angústia de tardes inteiras em perpétuo abandono
Nestes restos, neste ponto final na mobília empoeirada e no mofo das paredes vazias
Nestes restos dos restos dos restos e nada mais
Dos restos e de tudo que sobrou e que está aqui
No registro deste veneno ordinário que peleja em minhas veias

Neste mal qualquer enraizado em meus dias de extrema sevícia

EM - POEMAS ESCUROS - JOÃO AYRES - ARMAZÉM DE QUINQUILHARIAS E UTOPIAS

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